Silvio Santos tem seis filhas, e a forma como ele as chama, é por número, virou até bordão (Patricia Abravanel, por exemplo, é a “número 4”). Em 1974, o dono do SBT conheceu seu filho “número zero”, uma espécie de primogênito: Augusto Liberato, que mais tarde se tornaria seu maior pupilo na televisão, Gugu.
O encanto de Silvio por Gugu começou desde quando o conheceu, aos 14 anos. O adolescente, que trabalhava como office-boy em uma imobiliária, entregou pessoalmente cartas para o ídolo, que comprava horário na Globo. Na semana seguinte, procurou novamente o apresentador.
“Ele me pagou 50 cruzeiros por cada ideia e ganhei em um único dia mais do que o meu salário, que era 156 cruzeiros”, disse Gugu em entrevista ao Jornal do Brasil, em 1990. “No final, eu já estava ganhando, só com sugestões, 1.000 cruzeiros por mês. Aí o Silvio me contratou por 450”.
Silvio, ao perceber o talento e a disposição de Toninho, como Gugu era chamado antes da fama, decidiu apadrinhá-lo. Contratou o jovem versátil como auxiliar de escritório e em 1977 virou auxiliar de produção de seus programas.
Como um pai que deseja ver o filho seguindo seus passos, Silvio convenceu Gugu a abandonar a faculdade de odontologia, em Marília, para cursar jornalismo na Cásper Líbero, em são Paulo. “Você não vai gostar de ficar olhando as bocas das pessoas”, teria falado o apresentador.
Filho “rebelde”
Augusto cresceu e tentou sair das asas do “pai”. Quando conseguiu um emprego de repórter no programa Caravela da Saudade, ganhando 6 mil cruzeiros na Record, Silvio triplicou a oferta e o contratou como repórter especial.
A maior “rebeldia” de Gugu viria em 1987, quando assinou com a Globo no auge do sucesso como apresentador do Viva a Noite. “Confio muito nessa etapa de minha carreira, porque acho que vou poder realizar um grande sonho, de fazer um programa rico, com uma boa verba, ótimos cenários e um elenco de primeira”, antecipou ao Jornal do Brasil, em dezembro daquele ano.
Gugu também tinha levado seu diretor, Detto Costa, para trabalhar no novo programa de auditório, destinado ao público infanto-juvenil, às 17h.
Durou menos de três meses o contrato do pupilo de Silvio com a Globo. O dono do SBT, recuperando-se de uma cirurgia nas cordas vocais, conseguiu reverter o acordo conversando pessoalmente com Roberto Marinho à sede da emissora carioca.
“O Boni [vice-diretor de operações da Globo] me chamou, fizemos um contrato e acabei assinando com a Globo, que me prometeu um programa aos domingos e vários formatos. Fizeram cenário, estava tudo pronto para estrear. Silvio me chamou: ‘Eu queria que você não fosse para a Globo, porque estou com um problema de garganta e talvez eu não possa fazer o meu programa. Eu quero que você fique e divida o domingo comigo”, relembrou Gugu ao Programa do Porchat, em 2017.
“Pai” orgulhoso e “irmãs” ciumentas
Silvio Santos não escondeu a satisfação de ter resgatado seu afilhado artístico. No histórico Show de Calouros em que Silvio retornou após ter se afastado para operar as cordas vocais, ele elogiou Gugu para Hebe Camargo.
“Eu tentei trazer o Gugu de volta porque ele não é só um bom animador. Ele é um rapaz de bom caráter. Conheci a mãe dele, conheci o pai dele que me disse: ‘Comigo é pau na mão e mão na outra. Filho meu não pode ser nem bêbado, nem vagabundo, nem ladrão. Eu conheci a Maria e o Augusto, que foi caminhoneiro, e disse: ‘Não vou perder esse garoto que trouxe ao SBT, porque vou encontrar outros animadores, já tinha até outros, mas talvez eu não encontre um rapaz com boa formação como é o Gugu.”
Em entrevista ao Jornal do Brasil, Silvio sentenciou sobre Gugu: “Para mim, ele é o maior animador do Brasil”. E comparou criatura e criador: “Ainda que o estilo dele se pareça muito com o meu, Gugu é mais calmo em cena, coloca melhor as frases e usa muito menos palavras do que eu”.
Como em quase toda família, irmãos sentem ciúme uns dos outros, e não foi diferente na família Abravanel. Quando Gugu trocou o SBT pela Record, em junho de 2009, as filhas de Silvio se voltaram contra o apresentador. Silvia, a “número 2”, nunca escondeu sua mágoa.
“[Tenho] ressentimento, mágoa, pelas atitudes que ele teve principalmente com o meu pai. Ele saiu pela porta [do SBT] sem ao menos dar um tchau. Isso me magoou muito, porque eu conheci o Gugu quando eu tinha 15 anos, ele tinha uns 27, no casamento do meu pai, dentro da nossa casa. Ele não era nem famoso, não era praticamente nada. E o meu pai foi ensinando, foi apoiando, dando todo o apoio, e fazendo dele um apresentador. E foi embora do SBT para outra emissora sem dar tchau”, disse ela em 2015, no programa Eliana.
Mesmo em emissoras diferentes, Gugu e Silvio mantiveram o relacionamento de afilhado e padrinho até a tragédia que vitimou o apresentador, em sua casa, nos Estados Unidos.
Fonte: https://tvefamosos.uol.com.br/